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sábado, 23 de janeiro de 2010

Quem são os Los Hermanos


Primeiro, tenho que pedir vênia ao meu irmão, que certamente escreveria com muito mais prosa, poesia, acerto gramatical e interpretação inter-sub-meta-transcendental sobre o que essa banda foi capaz de fazer no curto espaço de tempo de sua existência (que ninguém sabe se teve fim, realmente).
Pra mim a banda começa com o "Bloco do eu sozinho". Por mais que se diga que uma banda pode (e até deve, em certos casos) mudar de som e de tendência, realmente parece (com raríssimas exceções que mostram que em algum ponto do disco de 1999 já nascia a banda de 2001) que são duas coisas completamente diferentes.
Nem falo do que se fez com Anna Júlia, tocada em todos os barzinhos-batizados-bate-estacas-boates-botecos até a exaustão, afinal, de uma maneira ou de outra, toda banda precisa de uma música para, pelo menos, entrar na mídia (ainda que isso nunca tenha sido o forte da banda mesmo).
Falo sim da própria tendência da banda, que depois de absorver elementos fortíssimos da MPB, da Bossa-Nova e do Samba, aparentemente o hard-core do primeiro disco nunca mais voltou, enquanto que as outras tendências (umas mais, outras menos) continuaram se misturando.
Digo até que algumas letras do primeiro disco talvez coubessem melhor em uma roupagem parecida com o que se viu nos discos seguintes, mas que nunca voltou a ser como o primeiro disco: "Tire esse azedume do meu peito, e com respeito trate a minha dor..." parece estar muito mais próximo de "...veja bem além desses fatos vis, saiba, traições são bem mais sutis. Se eu te troquei, não foi por maldade. Amor, veja bem, arranjei alguém chamado saudade", mas a levada é que parece não se encaixar muito nos versos. Mas tudo bem.
A banda, inclusive por causa do mal-estar causado pela gravadora do primeiro disco - que não queria seu produtor nem suas músicas - no segundo disco, parecia, realmente, que saía feito um pierrot perdido, mas procurando o seu bloco.
A primeira vez que vi Los Hermanos ao vivo foi num festival de verão do recife (quando merecia ser frequentado), em 2004, num dia que, de verão, só mesmo as monções, numa chuva torrencial que caiu e atrasou o começo dos shows em mais de duas horas, quando então entrou um Tony Garrido, pedindo desculpas pelo atraso ao público que já estava completamente encharcado.
Noite maravilhosa, com Alceu, Cidade Negra, Titãs, Skank, Natiruts, Mundo Livre, Cordel de Fogo, Otto.
A banda entrou para tocar às cinco da manhã, o show durou menos de uma hora, mas quando Marcelo Camelo começou a cantar "O Vencedor", a emoção tomou conta de todos, e vi os verdadeiros fãs (eu ainda não era um) emocionados, muitos chorando com as canções que eram executadas. Eu me emocionei com a emoção dos que estavam perto de mim e ficamos, eu e minha irmã, ensopados, mas olhando aquela apresentação que, para mim, foi um marco. De dia, todo molhado, vendo um povo cantar com uma vontade de quem estava pronto para, com a banda, enfrentar outra maratona como a que já tinha passado pela noite (e olha que Otto ainda tocaria depois disso...).
A partir daí, comprei "O bloco" e meu irmão se encarregou de comprar o resto, de tão mais fã que se tornou do que eu.
O certo é que num cenário musical onde proliferam bandas que fazem toda a trilha sonora de programas de fim de tarde (tudo bem, o Los Hermanos também já teve música incluída nesses programas), em que rezamos para que as bandas que são frutos da década de 80 resistam, em que os programas de calouros foram reformados para reality shows (onde nada se cria, tudo se copia - ou se destrói, ou se deturpa), os barbudos aparecem fazendo música de qualidade, com letras difíceis, profundas, com mensagens de amor, de dor, de saudade, de alegria, de vida, de velhice (os asilos, como diz meu irmão) em melodias ricas e que não têm como aparecer nas revistinhas de músicas cifradas.
Aliás, nessa cena (banda, letra, melodia), que ainda persiste, temos pouca coisa acontecendo - a não ser pelo Rappa, Nando Reis, Skank, Orquestra Imperial, Nação Zumbi (que ainda fazem, não vivem do que fizeram), ... Na minha lista, nada mais - E olha que esses aí são meio filhos de rama dos heróis de 80 e poucos. Uns outros são novos demais (Moptop, Vanguart, Mombojo, Little Joy..) e outros, apesar de constituirem um movimento muito bom, são outra coisa (como Móveis Coloniais de Acaju, ou o Teatro Mágico).
E ainda mais! Nessa letargia musical nesse formato, quando se constata a falta de músicos (olhem melhor por trás dessas bandinhas quando elas se apresentam) e de compositores, o Los Hermanos tinha logo dois de expressão maior: Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante.
Juntos, foram capazes de fazer muita música bela, usando de recursos de linguagem difíceis, de trocadilhos simples e ricos, de ênclises, próclises e mesóclises, falando de histórias impossíveis, de amores perdidos, de viagens inimagináveis, de arrependimentos, de saudades, de encontros, de juventude perdida, de traições, de romances, de dor, de despedida, de viradas, de súplicas, de jeito de viver diferente, de simples contemplação do tempo, do só, do calmo, perdido, do perplexo, do calado, do valente.
Talvez por isso, ao sentir que seu bloco já não estava mais tão sozinho, a banda, encontrando o seu caminho, fez dos seus fãs os verdadeiros multiplicadores de suas mensagens, que, para mim, ao contrário daquelas músicas em que nos encontramos e nos identificamos, ficamos é procurando personagens que aparecem nas músicas da banda, nos emocionamos com eles, vivemos com eles as suas Odisséias de minutos e ficamos alegres com sua glória ou choramos as suas dores. Isso é o máximo em Los Hermanos.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Lenine - É Luiz Gonzaga, é Mangue e é Mais...

A primeira vez que ouvi Lenine, cantava ele no carnaval do recife antigo, acho que em 1998 ou 1999, num show que fazia com Antônio Nóbrega e Alceu Valença.
Vi o povo do Recife cantando "Marco Marciano" como se fora um hino, e o maestro se emocionava com a força daquele momento, em que cantava como se estivesse em casa.
A partir daí adquiri, primeiro, "O dia em que faremos contato", lançado em 1997, eis que era, dos que já tinham sido lançados, o disco de maior penetração comercial, apesar de Elba Ramalho já ter cantado o outro hino pernambucano, Leão do Norte.
Nessa época, já começava a arranhar meu violão (arranho até hoje) e percebia que fazer a batida que é marca registrada do cabeludo não era nada fácil.
Aliás, até hoje, a batida de Lenine, onde quer que seja ouvida, é identificada. É única, é o próprio Lenine.
Apesar de ter forte influência musical que passa pela nordestinidade de Luiz Gonzaga e do movimento contemporâneo à sua própria ascensão, o mangue-beat de Chico Science (que musicalmente ainda continua muito vivo em razão da cultura pernambucana - Nação Zumbi ainda é fenomenal!), Lenine vai muito mais além.
Talvez por ter a característica camaleônica, como ele próprio define, Lenine faz uso, ao mesmo tempo, da cultura erudita e da cultura hip-hop, do lirismo de uma harpa e da energia de um Iggor Cavalera, Pick-ups e repentes em seus shows e discos, que recebem desde uma Julieta Venegas à Caju e Castanha.
Talvez isso faça Lenine ser aplaudido no Marco Zero e na Citè de La Musique, na França, reconhecido pela universalidade da sua música, presente em todos os elementos dos quais se utiliza.
Mas não é só. Lenine não só canta, mas toca, produz, arranja, compõe, atua. E também por isso tem desenvolvido um respeito que parte de todos, desde os que são produzidos por ele, como Maria Rita e Chico César, mas de todos os críticos e dos artistas que disputam a chance de contar com uma participação sua nos seus discos, seja um Lula Queiroga, com quem mantém uma parceria em músicas que marcaram a sua carreira (como em "A ponte"), ou uma Maria Bethania (em "Nem o Sol, Nem a Lua nem eu", maravilhosamente interpretada por ela em Maricotinha), seja um Suzano ou um Francis Hime.
Mas nada do que Lenine faz nos seus discos pode ser maior do que a sua presença de palco. É um artista que, claramente, gosta de poder usar a sua música como instrumento que desperta os mais diversos sentimentos nas pessoas, que cantam e sentem as letras inteligentes, nem sempre fáceis, mas que, junto com a sua pegada forte no violão e suas dissonantes, leva sempre o público ao delírio.
Vi um dia Lenine, há alguns anos, em João Pessoa, quando teve seu show aberto pela "Cabruêra", quando esta despontava de maneira promissora no cenário musical paraibano. Era um carnaval numa cidade que não tem carnaval. Mas com Lenine, sempre tem muito mais: tem Carnaval, tem ciranda, tem côco, tem repente, tem São João, tem Vibe, tem rock, tem som, tem energia de um Pernambucano que não pára.
Dançamos, cantamos, eu e minha irmã, num dia em que o céu estava lindo e ainda foi colorido por fogos de artifício, enquanto estávamos deitado no chão secular da ladeira do cetro histórico, descendo para o porto do Capim.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Música = Combinação de sons, tempo e silêncios...

O espaço aqui criado será uma forma de expressar as impressões acerca daquilo que se está fazendo, aqui e ali, na música.

Novas bandas, bandas novas, novas músicas, músicas novas, músicas velhas e velhas músicas, bandas velhas e velhas bandas.

A ordem altera o produto final e aqui teremos oportunidade de criticar o que de novo se tem feito e o que se tem feito "de novo". A música dá oportunidade de que tudo dê certo, numa velha e tradicional fórmula, que se reapresenta de maneira muito mais forte agora, com toda uma nova cena, já consolidada, de afirmação total da possibilidade infinita de produção, de um lado, e de uma gradativa e irreversível (aparentemente) saída de todos os intermediários que vivem das rendas daqueles que possuem o poder da criação (força nenhuma no mundo interfere, já dizia João Nogueira).

Nesse cenário, muita coisa boa aparece, mas também muito lixo acaba se utilizando desse meio completamente incontrolável que é a internet, para, também, alavancar (ainda que temporários) sucessos de um mês ou dois.

O que é bom e o que é ruim? Onde é que está a diferença nisso tudo? Nem sempre o que vende é bom, nem sempre o que não vende é bom.

A música (que não é a indústria fonográfica) tem o condão de ser completamente mutável de acordo com tendências, lugares, momentos, e isso tudo diferencia o sucesso do anonimato.

Aqui será um espaço onde apenas jogaremos algumas impressões, opinaremos sem medo e sempre que possível, estimularemos que os internautas possam conhecer e trocar informações sobre o que se faz por aí na música.