Seja Bem-Vindo!

Aqui se fala sobre música, sobre artistas e sobre bandas da cena nacional e internacional, de hoje e de sempre!

Já se falou aqui?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Mídia, o Cult, o Kitsch e o Faustão.

Vi Maria Gadú no Faustão e um amigo meu comentou comigo que ela já estava começando a perder o valor, por ter ido num programa que, sem sombra de dúvidas, é um dos piores da TV brasileira.
Quanto ao programa, concordo em número e grau, mas quanto a esse aspecto da popularização da música boa, sempre surgem comentários puritanos sobre isso.
É que existem alguns fãs que acham que o artista (ou suas músicas) não devem se misturar com a mídia massificada, porque isso teria o condão de destruir a boa reputação ou a qualidade do artista.
Falam isso do Killers, depois de “somebody told me”, do Cranberries depois de “Ode to my Family”, do los hermanos depois que teve música incluída no programa “malhação” ou de outras bandas e artistas.
Outro dia perguntaram a Nelson Motta, no programa do Serginho Groisman, qual a música que o remetia a uma coisa boa, ou que lhe lembrava alguma emoção da sua vida e ele, dizendo que advogava em causa própria, disse que a música mais importante era a que ele tinha feito com Lulu Santos, “Como uma onda” e disse que assim pensava porque essa era uma música que, apesar de ter sido feita por ele e pelo Lulu, era uma música que já não pertencia mais aos autores, mas pertencia ao público, porque cada pessoa já tinha tomado para si a música e alguns cantavam quando estavam alegres, outros quando estavam triste e isso era a maior alegria para um compositor: quando a sua música já não lhe pertencia, mas que pertencia a todo o mundo.
Acho que o cantor, compositor, artista musical de maneira geral deseja isso, que sua música transcenda, ultrapasse a sua autoria e seja tomada pelo público. Acho que assim ele sente que cumpriu o seu desiderato - fez sua obra fazer parte da cultura de um povo.
Esse desejo puritano de algumas qualidades de fãs de que o artista fique na penumbra midiática parece ser coisa de quem adora ser “Cult”, alguns até mesmo, "kitsch", porque tem que gostar de coisa estranha, diferente do normal, que gosta de mostrar que conhece e gosta de coisas que poucos conhecem porque não há mídia promovendo a disseminação da música ou do artista.
Aí, na minha modesta opinião, há duas observações a serem feitas. A primeira é que nem todo artista que esta à margem da mídia é bom e nem todo o que está se promovendo pela mídia é ruim. A segunda é que o que importa mesmo é a qualidade da música, sendo o fato de expansão pela mídia de música de qualidade muito positiva.
Quando a música é boa, quando é tomada pelo público realmente, perde a idade e perde até a autoria (quantas vezes já não ouvi alguém dizer que “Vamos Fugir” do Skank (do Gil, na verdade) é muito legal ou que “Além do Horizonte” do Jota Quest parece uma música do Roberto... e isso acontece com o Elvis, com os Beatles, com o Michael e com vários outros que são e serão regravados, remixados, homenageados...)
Por outro lado, isso também é o que faz as músicas de péssima qualidade (com ou sem mídia) terem a duração de um suspiro e serem completamente descartáveis. A utilização desse tipo de música (ligada a temas fúteis, frívolos, apelativos e afins) é sempre passageira, serve a determinadas ocasiões, mas não se integram à bagagem cultural de ninguém.
Por isso, não acho (ao contrário de alguns muitos) que o fato da utilização da mídia de massa tenha o condão, por si só, de deteriorar ou destruir o bom artista ou a boa música. A não ser quando a produção do artista se liga diretamente à prática mercantil da gravadora, distribuidora ou editora (ter que lançar um álbum por ano, por exemplo) ou então quando, depois de atingir um bom patamar na própria mídia, o artista passe e achar que pode fazer qualquer porcaria que será engolido pelo público. Aí é outra coisa.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Nova MPB - O reino de Vênus.

Movimento que parece bem destacado no cenário nacional dos últimos cinco anos é o feliz aparecimento de nova onda do que se pode chamar de novíssima MPB.
Marcada, notadamente, do ponto de vista musical por uma influência muito grande do samba, mas também da música lírica, soul, jazz e de uma instrumentalidade incomum e sensível, essas novas características acabam sendo extremamente produtivas para o gênero que se destaca claramente nessa nova fase: o gênero feminino.
Sim! Porque nas minhas parcas audições, não vejo ninguém além de um Diogo Nogueira e Rodrigo Maranhão (este mais conhecido pelas composições) nessa nova fase da MPB.
Note-se, claro, que não considero Zeca Baleiro, Chico César, Moska, Lenine (entre outros) participantes desse movimento, porque já possuem seus lugares que cronologicamente foram ocupados bem antes dessa nova geração, nascida depois da década de 80...
Dessas novas, destaco, porque as mais impressionantes: Maria Gadú, Roberta Sá, Ana Cañas, Mariana Aydar e Céu (a vovó de todas as outras). Não coloco Vanessa da Mata nesse meio porque apesar de gostar, vejo que todas essas que foram citadas aqui são muito mais musicais do que a moça que tem uma mangueira no quintal que, diga-se de passagem, é péssima ao vivo - tenta, aos trancos e barrancos, fazer falsetes e brincar com a voz para tentar fazer disfarçar a grande dificuldade que tem em passar por perto das versões que grava em estúdio.
Das citadas, acho que Maria Gadú impressiona pela precocidade (a bobinha shimbalayê foi feita aos 10) mas também pela pegada forte no violão (em "Laranja" lembra Lenine) e em letras bem mais elaboradas e ricas, como em Dona Cila, Altar Particular ou mesmo em Tudo Diferente. A voz é macia como uma seda e pode transformar uma "Baba baby" em uma canção que você fica pensando onde diabos já escutou tão familiar música (mesmo ficando triste quando descobre...). Mas Bethânia também já cantou "É o amor" e achei lindo, então... tudo vale a pena quando a alma não é pequena, já disse Fernando Pessoa. Não sei se trará Leandro Léo à reboque, mas ele também é muito bom.
Roberta Sá, por seu lado, faz uso impressionante da sua voz, e canta sorrindo, como se nada fizesse. Quando ouvi "samba de um minuto" (de Rodrigo Maranhão), me encantei pela natalense que flutua no palco e de Dorival cantou "Vizinha do Lado" de maneira ímpar e juntou sua facilidade de cantar samba de roda e ritmos de ciranda com as composições de Pedro Luis (como em Girando na Renda) e gravou um cd muito cuidadoso e belo de se ouvir do começo ao fim.
Ana Cañas traz um estilo algumas vezes um pouco mais experimental. Outras é bem Pop, e ainda tem procurado se firmar definitivamente. Acho que a ajuda de Nando Reis, em "Pra você guardei o amor" vem bem a calhar. Certamente Virá com outras tão boas como em "Devolve moço" e "Esconderijo" (que tem um clipe bem legal dirigido por Selton Melo).
Mariana Aydar também vem bem nessa safra. Ouvi-la lembra um pouco de Leila Pinheiro, mas com mais ritmo. Tem o suígue brasileiro, e parece estar bem próximo da Bossa Nova. Mais que as outras que comento aqui. Mas também anda muito muito bem no samba e ainda passa meio pelo xote e baião. Tem alguns vídeos na internet dela junto com Roberta Sá. Ambas são ótimas.
Céu pode ser considerada uma veterana em relação às que aqui citei. Já tem 3 CDs gravados.
Quem está procurando alguma coisa nova na música e escuta "Cangote", "Bubuia", "Comadi", "Lenda" certamente encontra. Escutei Céu pela primeira vez no programa "Tom Brasil" (eu acho) há uns 4 anos, mais ou menos. Se você gosta de música, escute. De todas, também pela experiência, é a mais cheia de Soul e Jazz e faz uso irrepreensível da voz, que não deixaria nada a desejar em nenhum festival mundial.

E onde estão os homens nessa hora é que eu me pergunto...E não que queira que tal onda acabe, pois é muito rica e profusa em talentos, pois elas além de intérpretes (o que era regra num passado recente) também estão se tornando ótimas músicas, compositoras e instrumentistas dedicadas, e aqui citei apenas algumas delas.

É que uma boa voz masculina que entre nessa nova onda também faz falta e só ter um Diogo Nogueira (que não só não nega seu DNA como faz uso dele nos seus discos) é pouco.

Marte, na música, parece ter entrado em eclipse, apagado pelo som de Vênus.