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segunda-feira, 8 de março de 2010

Lulu Santos - O melhor Chato da Música Pupular Brasileira

"O cara é um chato, arrogante..." e coisas do gênero são bem comuns quando se fala de Lulu Santos. E ele pode, realmente, até ser mesmo meio chato sim, mas ele pode.
É interessante notar também que a grande maioria das pessoas que dizem isso, ainda possuem referências da chatice dele, e dizem que "na cidade tal ele falou mal do povo, ou disse que a cidade era suja, ou reclamou veementemente do som..."; mas dizem sem muita certeza de quando, como e mesmo onde aconteceu.
É que ele (o Lulu) é assim: parece que o tempo se encarregou de fazer dele um chato de galocha, um sujeito pedante, besta, cheio de si. E o povo alimenta essa idéia, a mídia ajuda e isso tudo cresce.
Ao mesmo tempo ele, utilizando-se da pecha que já lhe cabe, porque incorporou-se à sua personalidade pública, aproveita para dar uma de Paulo Francis (inteligentíssimo, mas de vez em quando dizia cada bobagem...) e vai a um prêmio de música, onde é homenageado da noite, chega ao microfone e diz: "Eu sei que eu mereço...".
Aí, cai na classe das excentricidades permitidas (ou toleradas) por quem já fez de tudo o que quis da vida, da arte e da carreira.
Normalmente, quem espeta o Lulu nunca foi a um show dele. Pois vá e quero ver se não há de dizer que ele pode até ser chato, mas que faz um som como ninguém, isso faz. Merece todo o respeito pelo que já produziu na cultura brasileira e pelo que ainda continua fazendo. Talvez com um pouco menos de afobação (para quê numa altura do campeonato dessa?), mas com uma força ímpar.
Eu fui em um dos shows do Lulu, em que ele, Engenheiros e Cidade Negra, lá no Recife, fizeram um show memorável. Com uma guitarra azul bebê, fazia suas estripolias como se fosse um adolescente, deslizando os dedos na guitarra como quem entra em casa no escuro, de luz apagada e sabe exatamente onde pisar.
Roqueiro de formação, teve aparentemente inspiração nos Beatles, formou banda com Lobão e Ritchie, participou com muito êxito do Rock n' Rio - 85 e disparou, apesar dessa linha, em 1983, seu sucesso incomparável, uma baladinha havaiana, feita quase sem pretensão com um de seus grandes parceiros, Nelson Motta. "Como uma onda" (1983), segundo o próprio Nelson Motta, já pertence ao povo e não mais a ele e ao Lulu.
Foi ao Funk, à música eletrônica (com o ótimo Memê), incorporou elementos do Baião, do Reggae, do Rock ska, do Samba e foi capaz de Rocks melodiosos e suingados, com guitarras ladeadas de saxofones - como em "Dinossauros do Rock", "Areias escaldantes" ou "Lei da Selva"; de melodias lindíssimas em roupagens simples - em "Deusa da Ilusão", "Ela me faz tão bem", "Toda forma de Amor" e "Vale de lágrimas"; e de mensagens positivas em letras que todos cantam - em "Tempos Modernos" e "Tudo Azul" isso só para citar algumas obras de seus discos que, diga-se de passagem, foram produzidos, vários deles, pelo próprio chato.
Teve um período um pouco distante, mas mesmo assim ainda produziu discos que, se não foram vendáveis, eram bons. Anticiclone Tropical, Ligá Lá e Calendário são eles, apesar de Popsambalanço e Mondo Cane não serem exatamente pérolas.
No show que fui, lá para as tantas, ele, de regata, todo suado, começa a entoar "Como uma Onda" e não canta nem uma estrofe sequer da música. Passa a quitarra para as costas, abre os braços, as luzes se acendem e ele fica ali, contemplando o embasbacamento de umas oito ou nove mil pessoas, que cantam sua obra sofregamente, enquanto ele goza de prazer, fazendo ondinhas com as mãos e regendo o coral enlouquecido. Não é pra qualquer um não. Confesso que ainda pensei comigo mesmo, na hora:"Mas que bom filho da Puta!". Mas depois percebi que era só uma das minhas frustrações aflorando em forma de inveja e logo me juntei, quase que imediatamente, à multidão.
No meu carro tenho, original, "Amor à Arte"(1988) onde Lulu Santos e Auxílio Luxuoso tocam sempre. Bruna diz que gosta de "Dinossauros do Rock" (e é realmente ótima) mas o disco vai de "não identificado" à "You've got to Hide Your Love Away", de "Um Certo Alguém" a "Ny Popoya y Papa" e termina numa vinheta inimaginável de Asa Branca instrumental.
Acho que vão continuar a falar desse cinquentão chato que já fez muito pela Música Popular Brasileira. Também acho que ele não vai lá se incomodar muito não.
E acho, também, que sempre que tiver chance, esterei, junto com uma multidão, a cantar as músicas desse pedante.
Mais do que isso, só minha mãe mesmo, que chora ouvindo ele cantar no seu Microsistem nos seus meios-dias de domingo. Ele merece!