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quinta-feira, 31 de março de 2011

Uma letra - O que será - Chico Buarque



(Para o meu irmão, Vi)

O que será, que será?
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
E gritam nos mercados que com certeza
Está na natureza
Será, que será?
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho...

O que será, que será?
Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia a dia das meretrizes
No plano dos bandidos dos desvalidos
Em todos os sentidos...
Será, que será?
O que não tem decência nem nunca terá
O que não tem censura nem nunca terá
O que não faz sentido...

O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar
Por que todos os risos vão desafiar
Por que todos os sinos irão repicar
Por que todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo.



foto:http://www.coliseulisboa.com/evento.php?id=212

quinta-feira, 17 de março de 2011

Maria Bethânia e seu blog de 1,3 milhões de Reais




Apesar desse blog estar voltado à comentários e discussões acerca, basicamente, de música, não tive como ignorar os bombardeios já criados por e-mails, notícias nos sites de jornais (), notícias circuladas no facebook (apesar de eu não ter um) e comentários dos colegas professores aqui em Patos sobre a possibilidade do fornecimento de 1,3 milhões de Reais para a criação de um blog por Maria Bethânia, com direção de Andrucha Waddington, que consistiria na disponibilização, pelo referido blog, de uma poesia por dia, "pílulas de poesia", como descrito no projeto, durante os 365 dias do ano, de poetas escolhidos pela própria Bethânia (ela que sempre lê seus poetas favoritos durante seus shows).

De fato, como cidadão brasileiro que definitivamente se incomoda com a falta da difusão (e acesso) da cultura no nosso país, não posso deixar de fazer algumas considerações acerca do tal projeto (http://www.cinemaemcena.com.br/pv/BlogPablo/file.axd?file=2011%2F3%2FProjeto+Cultural.pdf).

Primeiro, não há como negar: pode-se preferir outra, mas Maria Bethânia representa, irrefutavelmente, muitíssimo bem a cultura da música brasileira. Isso não se discute.

Mas é outra coisa. Acreditar no engodo de que um projeto que prevê uma liberação de 1,3 milhões de Reais (orçamento de um ano) para um blog possa ter alguma justificativa plausível é absurdo.

Para não cometer leviandade, li detidamente os detalhes do projeto, que conta, entre outras coisas, com gastos de R$ 5.000,00 para telefone (mesma verba para motoboy), R$ 2.500,00 para assistente administrativo (a mesma verba da assessoria jurídica!), Pesquisa dos textos (que Maria tem em casa? Pode assistir os DVDs dela que aparece nos extras, ela em casa, lendo seus preferidos...) custando R$ 3.000,00/mês, uma coordenação Editorial de R$ 10.000/mês e a bagatela de R$ 50.000,00/mês pra direção artística!!! De um blog?

Não estou aqui diminuindo os serviços dos profissionais que têm sido cada vez mais importantes nos dias atuais: programadores, designers, profissionais de mídia e correlatos, mas no meu sentir, estamos diante de uma clara (das muitas que existem por aí, só que mais escancarada!) formas de dilapidação da verba pública, no desejo de utiliza-la em proveito particular.

É brincar com uma pequena parcela da população que tem consciência do quanto projetos culturais com esse aporte orçamentário poderiam - com outras práticas mais simples e eficazes - beneficiar muito mais do que somente à elite que tem acesso à esse tipo de cultura de internet (que são praticamente os mesmos que a produzem) e que é o chamado "público alvo" no projeto. Ou será que se está esperando que os jovens da periferia se interessem em ler os sempre queridos portugueses Fernando Pessoa e Manoel Bandeira, declamados nos shows da cantora???

Uma coisa é a produção de um filme (e olha que dá nojo ver o tanto de incentivo estatal que o cinema brasileiro possui - coisa única no mundo, pelo menos que eu saiba), que envolve, certamente, uma série de necessidades técnicas, de profissionais inúmeros e feito, obviamente, com o intuito de arrecadação de bilheteria. Outra coisa é um projeto que se esconde atrás de uma justificativa completamente capenga de que ajudará a cultura brasileira.

Que circulará bem pelo prestígio que goza a irmã de Caetano, não há dúvidas disso. Inexplicável são as condições para que isso aconteça. Ainda mais quando não há nenhum, registre-se, nenhum tipo de preocupação de inclusão social, participação de instituições culturais do terceiro setor sem fins lucrativos, nada. Ah! No projeto diz que o acesso ao blog é gratuito... agora sim, tudo certo, cumpre sua função social porque não cobra para ver os vídeos... entendi.

Portanto, se querem fazer cultura realmente, os envolvidos no projeto deveriam, por iniciativa própria (e olha que prestígio para tanto não falta - o próprio projeto se encarrega bem de demonstrar a larga experiência e excelência dos idealizadores, produtores e executores...) buscar meios privados de financiamento, estimulando a participação de toda a população, sobretudo incluindo aqueles que não têm acesso à cultura da internet e penam nas escolas públicas do Brasil para ler um livro de literatura nacional...

Continuarei amando a música, arte e obra de Maria Bethânia, porque são realmente lindos. Mas o projeto é um completo absurdo.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Uma letra - Super-Homem, a Canção - Gilberto Gil



Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter
Que nada, minha porção mulher que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É o que me faz viver
Quem dera pudesse todo homem compreender, ó mãe, quem dera
Ser o verão no apogeu da primavera
E só por ela ser
Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória
Mudando como um Deus o curso da história
Por causa da mulher
Quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher

terça-feira, 15 de março de 2011

Carnaval Olinda - Recife 2011


Mais um Carnaval no trecho Olinda-Recife. Um circuito onde apesar do carnaval ser também uma festa de elite (não é Rachel Sherazade? - Vide Youtube) apresenta também, para os que ainda querem fugir de toda a porcaria (que consumimos, claro, com todas as "foge, foge mulher maravilha, foge, foge, superman!"), de maneira satisfatória, acesso à boa música, a espetáculos de cultura popular efetivamente para o povo (pois nem olinda tem camarote vip na Ribeira nem nos Quatro Cantos nem o Marco Zero tem front-stage...).

Mas vamos lá. Primeiro, em virtude de um trânsito realmente pesado entre Campina e Recife (na verdade saindo de João Pessoa - tive de ir pela rota do sol até Jacumã e de lá sair pela BR 101...) acabei chegando muito tarde em Recife e, talvez, tenha perdido uma das maiores apresentações de música popular (feminina) dos últimos tempos: Ana Canas, Céu, Elba, Pitty (que não estava na programação inicial), Roberta Sá, Marina Lima, Mariana Aydar, Izaar, Karina Buhr, Maria Gadu, Nena Queiroga, Zélia Duncan, Fernanda Takai.



Só deu tempo de ver, de longe, ainda chegando, Pitty cantando "Me adora", Mariana Aydar (que depois dividiu o Palco com Elba) e a última música, onde todas cantaram, junto com o Diretor do Espetáculo (que tem roteiro de Braulio Tavares!!!), Lenine, uma música chamada "Sob o mesmo Céu", que é, inclusive, o nome original do show (que foi chamado agora de "Mulheres do Brasil"), que inicialmente trazia Fafá, Alcione, Sandy, Vanessa da Mata, Fernanda Abreu, Elba, Margareth Menezes e Ana Carolina.

O que deu pra ver, ainda que somente no fim, foi um espetáculo cuidadosamente preparado com todo o talento de Lenine que, aliás, no dia seguinte se apresentou com Vanessa da Mata.



Ele, claro, talvez seja o artista pernambucano mais prestigiado atualmente. O que lhe dá, inclusive, a possibilidade de fazer música quase experimental no sábado de carnaval, mesmo para uma platéia que sempre está disposta a pular freneticamente. Um show mais melodioso, talvez, com participações especiais de artistas da cultura africana. Tcheka, de Cabo Verde, e Blick Bassy, de Camarões, foram os convidados.

Mesmo assim, “Aquilo que dá no coração”, “Martelo Bigorna”, "Dois Olhos Negros", “Voltei Recife”, “Paciência”, "Lavadeira do Rio", "Candeeiro Encantado", "A Rede", "Aquilo que dá no coração", "Voltei Recife", "Relampiano", foram algumas das que foram tocadas. Lenine retorna, duas vezes, para o bis, para encerrar de verdade, cantando "Alzira e a Torre", efusivamente cobrada pelo público, a quem responde:"poxa, a gente tenta fazer uma coisa nova pra vocês e vocês querem Alzira e a Torre? Então vamo lá!".

Mas é isso que o povo quer: sugar de tudo que Lenine pode produzir e mostrar de novo e de novo, e não há quem canse!



Quanto ao show de Vanessa da Mata, só comprovei o que já havia dito aqui em outro post: Ela é uma artista que tem suas virtudes (como compositora, inclusive), mas no palco deixa muito a desejar, sobretudo quando comparada com outras artistas do mesmo gênero, como Roberta Sá ou mesmo Céu. Faz falsetes terríveis e grita muito (não como Ana Carolina). Cantou uma música de Rita Lee (que disse ter preparado especialmente para o carnaval) que foi de arrepiar - de horror mesmo. Mas cantou seus grandes sucessos(Boa Sorte, Aiaiaiai, Não me deixe só, Ilegais), agitou a galera e também emocionou, cantando a enjoadinha, mas belas, "Amado" e "Vermelho". Registro para a muito bem feita "Pirraça". Ainda fez graça cantando "Stirt it Up" de Bob.

Já na segunda feira, uma chuva torrencial acabou nos levando a voltar pra casa quando não contava mais do que 15 minutos do show de Martnalia (que afirmo ser realmente a versão mulher(?) de Martinho da Vila). Não havia nenhuma possibilidade de ficarmos ali sem escafandros ou o que valesse. Nesse momento, e em outros que ainda viriam, percebi como os taxistas de recife são realmente preparados: os bancos dos carros são - quase sempre - cobertos de couro! Certamente já esperando os pintos molhados que saem das ruas do marco zero. Era muita, muita chuva mesmo.

O não comparecimento nos shows de Alceu Valença e Elba Ramalho foram motivados pelas intempéries, digamos, físicas, causadas pelas ladeiras de Olinda. Todos os dias as ladeiras foram visitadas sob um sol causticante, acompanhado de muita troça, muito maracatu (registre-se a presença, inclusive, de um grupo de Maracatu de Campina Grande, que soube que faz ensaios às sextas feiras no CUCA) e claro, muito frevo.

Tudo parte de um carnaval que preserva as suas raízes (ainda que se ouça, fora - e ao redor - do eixo Recife-Olinda, música baiana, mas também rock e tantas outras vertentes...) e entendo que, no Brasil é realmente o que mais possibilita a participação do povo, sem excluir o grande público em espaços privilegiados, impossibilitando que ele chegue perto do artista.

No mais, aqui e acolá, a presença de Chapeuzinho Vermelho (sem balas de absinto, desta feita) provocava a aproximação de vários lobos-maus e até de gente do pré-sal (?), e, desavisada do hit do momento, a Mulher Maravilha teve de aguentar muito, mas muito mesmo (junto com a Super-Girl) gente avisando pra ela fugir, fugir e fugir. Pobre coitada, deixou o seu jato nas areias da Praia de Cabo Branco - Essa onda de preservação da natureza pela diminuição do consumo chegou até mesmo aos super-heróis.

Ainda deu tempo pra ficar noivo (junto com Olímpio - esse de verdade!!!) com cara de pagodeiro (óculos branco sempre ajuda) e fazer tipo, derretendo de calor no sobe e desce de Olinda. Todo o carnaval divertidíssimo, e sempre que alguém pensava em ficar meio mole, ou passional por dentro, vinha, lá do âmago a mensagem: "Eu fico triste - Alegre! Sem beber eu fico triste, bebendo eu fico alegre!" Fosse nas ruas de Olinda ou de Recife, fosse embalando atendentes do Macdonalds no Tacaruna, ou mesmo formando um Mini-bloco com umas velhinhas no final de Olinda... que perguntaram se a gente era bipolar (triste-alegre?)... Só no carnaval mesmo pra isso acontecer... Demais, demais...